Coordenador: profº
Henrique Fernandes Alves Neto
Colaboradores: Eduarda
Papst; Fernanda Inácio; Gabriela Stresser; Karine Razalkiewicz; Maria Eduarda
Huida; Osmar Fabiano de Souza Filho; Paulo Arthur Hilário.
Matéria eficiente
Diretor, roteirista e produtor: Darren Paul Fisher. Este é o
terceiro filme que ele dirigiu, sendo os outros dois: Inbetweeners (2001) e
Popcorn (2007).
Diretor de Fotografia: James Watson.
Nacionalidade da obra: Britânico; inglês.
Produtora: Incurably Curious Productions.
Distribuidora: FilmBuff.
Ano de lançamento: 2013.
Formas e modelos
Darren Fisher pega carona na onda sci fi distópico e cria um enredo bem
conhecido da década de 2010: amores impossíveis em uma sociedade controlada com
regras explícitas, onde cada um sabe o seu lugar. Temos vários exemplos deste
tipo de história: Jogos Vorazes, Divergente, Doador de Memórias, Mundos
Opostos, e assim por diante. Outra técnica utilizada no filme é o chamado
“efeito Rashomon”, que consiste em apresentar várias versões de uma única
“verdade”. Frenquecies é um exemplo disso vide a estrutura do mesmo, dividido
em cinco partes, sendo três delas intituladas com os nomes das personagens. As
partes são: Marie, Zak, Maria+Zak, OXV, Theodore.
Valor heurístico
Partindo do pressuposto de
Clifford Geertz, consideramos as obras cinematográficas como textos que podem ser lidos em diferentes
contextos. Isso significa que podemos
atribuir diversos significados a um texto
quando tentamos traduzi-los para o nosso universo
simbólico. Sendo assim, o filme em questão pode ser interpretado a partir
de 4 inteletcuais: Durkheim, Bourdieu, Sartre e Nietzsche. Vamos as
interpretações.
É possível, com o filme Frequencies, fazermos algumas relações
com o pensamento de Émile Durkheim e sua teoria dos fatos sociais. O que são os fatos sociais? Para Durkheim, a
Sociologia – uma ciência nova - deveria ter um objeto específico de estudo, um
objeto que não fosse estudado por nenhuma outra área do conhecimento. A sua
intenção era compreender como as relações entre os seres humanos acontecia, ou
melhor, para explicar a vida em sociedade. Neste ínterim, desenvolveu os fatos sociais para tal. Podemos
defini-los da seguinte forma:
Toda maneira de agir, fixa
ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda,
que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência
própria, independente das manifestações individuais que possa ter. (DURKHEIM apud QUINTANEIRO, 2009, p. 68)
Uma outra possível definição é:
“as maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de
um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõe.” (DURKHEIM apud
QUINTANEIRO, 2009, p. 68) Em ambas as definições, podemos encontrar três
características principais dos fatos sociais: geral, exterior e coercitivo.
Como exemplo de geral, podemos lembrar da cena que se
passa na escola, na qual os alunos realizam uma avaliação da sua frequência; ao
fim desta, cada aluno recebe o seu resultado que definirá a sua posição social
e existencial. Ao que parece, todos os seres humanos dessa sociedade foram
submetidos a este teste, o que demonstra a extensão desse fato social. Um detalhe importante: o teste é realizado na escola
que, para Durkheim, tem um papel fundamental na socialização do indivíduo.
Já a característica exterior pode ser percebida na
personagem de Theodore que, durante todo o filme, busca por um código que governa todas as coisas do
universo; sendo assim, nada ocorre por uma vontade individual, mas sim de
acordo com este princípio geral. O próprio Theodore diz: “Mas não estou
interessado em destinos individuais. O que estou interessado é na sinfonia...
universal”.
Por último, o sentido coercitivo acompanha toda a obra
cinematográfica, notado quando as personagens Marie e Zak tentam se aproximar e
permanecem mais de um minuto juntos: malas caem, o tempo muda, ele desmaia, uma
sala pega fogo, ou seja, fenômenos estranhos ocorrem. Essa “força repelente” só
acontece quando seres humanos de frequências muito díspares insistem ficar no
mesmo espaço/tempo.
É possível também interpretarmos
algumas cenas de Frequencies à luz da
teoria de Pierre Bourdieu. Principalmente o conceito de habitus poderá nos ajudar nesta relação. Segundo Bourdieu todos os
indivíduos – que ele chamará de agentes
– incorporam possuem um habitus adquirido socialmente. Mas, o que é o habitus?
São “maneiras de ser permanentes, duráveis que podem, em particular, levá-los a
resistir, a opor-se às forças do campo” (BOURDIEU, 2004; p. 28), em poucas
palavras, é uma grade de leitura pela qual o agente vê o mundo. Ou seja, é a
maneira como ele vê, sente, vivencia a realidade, o mundo, a vida social. Além
de ser um modo de perceber esta realidade, o habitus pode determinar os gostos,
os desejos, as vontades, o modo de falar, de se vestir, e assim por diante.
Enfim, o habitus é um conjunto de determinantes
que orientam a nossa vida social.
No filme, por exemplo, além da
frequência determinar quem terá mais sorte do que o outro, ela também determina
a maneira que cada um se comporta frente aos outros; é só lembrarmos da feira
de ciência, a cena na qual a câmera acompanha Zak e ele observa todos os outros
em sua volta. Aqueles que possuem frequência parecidas, possuem comportamentos
parecidos, gostos semelhantes; além disso, é muito mais provável um amor entre agentes de frequências próximas do que o
amor impossível entre frequências distâncias. E aí que está a graça: o filme
retrata exatamente este último exemplo!
Saindo da Sociologia e nos
aproximando da Filosofia, temos Sartre e Nietzsche com importante contribuições
para a interpretação do filme. Sartre, um dos principais representantes do
existencialismo ateu, afirmava a existência de um sentimento chamado náusea. Caracterizado pelo vazio que
surge quando percebemos que estamos sós em nossa própria existência, a náusea é
um sentimento importante para Sartre: é a tomada de consciência de que a existência precede a essência[1].
Temos uma explicação clara de Sartre acerca deste sentimento:
Primeiramente, o que
entendemos por angústia? O
existencialista costuma declarar que o homem é angústia: isso significa o
seguinte: o homem que se engaja e que se dá conta de que ele não é apenas o que
escolher ser, mas é também um legislador que escolhe ao mesmo tempo o que será
a humanidade inteira, não poderia furtar-se do sentimento de sua total e
profunda responsabilidade. (SARTRE, 2014, p. 21) [grifo do autor]
Se o leitor substituir a palavra
destacada por náusea, perceberá a
interpretação do filme que podemos fazer: quando Marie e Zak tocam as mãos em
um de seus encontros. A cena se passa em um restaurante, o universo começa a
querer separá-los, mas eles insistem. O resultado é que Maria começa a sentir e diz é uma sensação estranha, como
um peso. Sim, o peso da existência de Sartre. No começo do filme foi dito que
pessoas de alta frequência não sentem nenhum tipo de sentimento e/ou emoção.
Apenas vivem, ao sabor da sorte e o
Universo. Pelo contrário, aqueles com frequências baixas, sentem o peso da existência. Sendo assim, eles
compreendem a angústia que é ser
responsável pelo que é e, além disso, ser responsável por toda a Humanidade –
no caso do filme, para que a Natureza não desestabilize.
A contribuição da filosofia de
Nietzsche está na personagem de Zak indo contra as regras já estabelecidas pela
sociedade e tentando mudar sua frequência para poder ficar perto de Marie. Podemos
associar essa quebra de valores com a ideia de que o ser humano teria a
capacidade de criar novos valores, além do bem e do mal, desfazendo e refazendo
avaliações e estabelecendo novas interpretações, ou seja, o chamado super-homem.
Em resumo, podemos relacionar os
seguintes autores e conceitos: Durkheim e os fatos sociais; Bourdieu e o
habitus; Sartre e a náusea; Nietzsche e o super-homem.
Referências
BOURDIEU, Pierre. Os
usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico.
São Paulo: Editora UNESP, 2004.
GARCIA, José Roberto. Eureka:
construindo cidadão reflexivos. Florianópolis: Sophos, 2007.
QUINTANEIRO, Tania. Um
toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2009.
SARTRE, Jean-Paul. O
existencialismo é um humanismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
[1] “Que
significa aqui a existência precede a essência? Significa que o homem existe
primeiro, se encontra, surge no mundo, e se define em seguida. Se o homem, na
concepção do existencialismo, não é definível, é porque ele não é,
inicialmente, nada. Ele apenas será alguma coisa posteriormente, e será aquilo
que ele se tornar.” (SARTRE, 2014, p. 19)
adorei
ResponderExcluirMuito obrigado pelo prestígio, professora! Sempre teremos contribuições a fazer neste espaço! Será sempre bem-vinda!
Excluirinteresso por esses assuntos, Possivelmente visitarei mais vezes.... sinceros parabens
ResponderExcluirMuito obrigado pela visita! Em breve teremos mais análises e roteiros de discussões!
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